Hoje em dia a preocupação maior das mulheres é
acompanhar o ritmo acelerado das tendências da moda. As meninas de doze anos já
se vestem como adultas e têm cada vez mais pressa de mostrar as pseudo-curvas
que já acham que têm e muitas mulheres com idade para ter juízo vestem-se como
se fossem meninas de quinze ou de vinte.
Nos
dias de hoje somos constantemente bombardeados com publicidade cada vez mais
dirigida às camadas mais jovens, as mais fáceis de impressionar, e depois
gera-se o problema de que hoje me apeteceu falar: estar na moda.
A
publicidade agressiva que vemos em cada página de revista, em todos os canais
de televisão e em qualquer página da internet não tem, como é evidente, a
preocupação de explicar o que significa isso de estar na moda. O acto de
publicitar surgiu unicamente com o intuito de deslumbrar e conquistar através
da imagem. Quando toca à moda, já por si do interesse do universo feminino, as
coisas tomam proporções muito maiores. As modelos que vemos nos outdoors ou nos
editoriais das revistas de moda não são escolhidas ao acaso e quem vê essa
publicidade não está, na realidade, a ver apenas o artigo que estão a tentar
vender-nos – inevitavelmente, e mesmo que tenhamos consciência das coisas,
confundimo-nos com a modelo da imagem e criamos a ilusão de ficarmos iguais a
ela se usarmos aquela roupa, calçarmos aqueles sapatos e usarmos aquelas
pulseiras. Claro que depois a realidade é bem mais cruel e se por sorte houver
“o tal” vestido num tamanho que nos sirva, a imagem que o espelho nos dá não é
nem por sombra igual àquela que vimos na revista. A nossa pele não é tão
imaculada, as nossas pernas não ficaram mais altas e, triste surpresa, o nosso
cabelo também não ficou loiro nem com aquelas ondas maravilhosas. Ohhh!
Sabendo
que a publicidade não vai ter fim e que vai arranjar sempre forma de nos
conquistar, há que tentar ser imune a essa insistência e ter sempre presente
que não se pode levar tão a peito tudo o que se ouve ou se vê. Quando a
tendência são as rendas, como este ano, por exemplo, é normal que sejam rendas
o que mais se vê por aí à venda mas isso não significa que um vestido de renda
se use com umas meias de renda e umas sabrinas de renda. Há que equilibrar as
coisas.
O
que se vê nos desfiles das grandes marcas francesas, italianas ou americanas
não é para ser copiado. Os desfiles são criados a pensar no dramatismo, são
pensados para criar impacto e para deixar bem claras as tendências da época e
por isso é natural que se vejam exagerados alguns looks. No dia-a-dia as coisas
devem ter outros contornos, mais discretos, mais equilibrados.
Ainda
hoje me assusto ao ver a paixão ardente de certas pessoas pelo famoso padrão
“tigresse”. Curioso que a grande maioria chama tigre ao leopardo, mas deixemos
isso para outros voos. Ora bem…eu também gosto das minhas écharpesde manchas pretas e de algumas sabrinas que por aí se
vendem mas este é um padrão que deve ser usado como apontamento. Quer isto
dizer que por estar na moda não se deve vestir uma camisa, umas calças e um
casaco e adornar tudo isto com um lenço, uns sapatos e uma mala.
Às
custas desta urgência de seguir a moda, para muita gente vale tudo. Às vezes
penso que o carnaval já não é uma só vez no ano e outras vezes confundo o shopping
com o jardim zoológico. Zebras, tigresas, leopardas, cobras….há para todos os
gostos.
As
“leggings” estão na moda? Os calçõezinhos de ganga também? Ui, e as listas e o
leopardo também? E cores fortes? Uau!!! Então vou ser o último grito, vou
vestir as minhas leggings leopardo, o meu belo calção de ganga esfarrapada e a
minha t-shirt larga às listas cor-de-rosa e amarelas e estou pronta para
arrasar. Arrasas, fofa, mas não como pensas. Se o Oscar de la Renta e o Karl
Lagerfeld ou o Elie Saab passassem por ti, caíam-te aos pés! Redondos, com um
piripaque fulminante.
Um
outro problema da moda é não querer educar. Claro que não lhe convém, também.
Pessoas esclarecidas e equilibradas são alvos mais difíceis, mas não é muito
mais “fashion”uma pessoa de bons modos e bem falante? É que Senhor me perdoe,
mas se ouvirmos a tal criatura do parágrafo acima soltar um belo de um
“prontos”, já não choca tanto, mas se a mesma expressão saísse da boca de uma
Grace Kelly, oh desilusão! Somos preconceituosos a ponto de julgar pelo que a
pessoa veste e se há casos em que de facto o figurino está directamente
relacionado com o resto, outros há, ainda piores, em que o aspecto exterior,
elegante, sóbrio e discreto, fica completamente desfeito quando a dita
personagem abre a boca, se senta, ou come.
Eu
cá prefiro uma “zebra” que seja fiel ao seu zurrar do que uma madame num
vestido Lanvin maravilhoso, sentada com uma perna para cada lado, a mastigar de
boca aberta e a dizer ao filho, num fatinho Gucci, “Ouvistes, Leandro Manuel?
Ou comes a ***** da sopa tuoda ou lebas um tento no focinho!”
O
nosso gosto pode não ser o melhor, mas as roupas mudam-se, melhoram-se! Já as
boas maneiras e a elegância não se compram e, na minha muito modesta opinião,
deviam ser as primeiras preocupações de quem faz tanta questão de estar na
moda.